AINDA A BARRAGEM E OUTROS PROJETOS
Jeremias Macário
Este racionamento oficial de água vai ser pior que o anterior de 2012, 2013/14 e outros ainda virão até a construção definitiva da barragem do rio Catolé, prometida há mais de 10 anos, só para ficarmos nos tempos mais recentes. Os moradores de Vitória da Conquista, a terceira maior cidade da Bahia com duas universidades públicas e mais de 10 faculdades de ensino presencial e à distância, não merecem tanta humilhação. Não bastam o horror e a tortura contra idosos, crianças e grávidas nas filas de vacinação da gripe H1N1?
Não existe uma mobilização permanente por parte das entidades (associações, sindicatos e outros grupos) e dos próprios políticos da terra (Câmara de Vereadores e deputados) no que diz respeito à cobrança firme de providências dos governantes porque há anos vivemos nesta situação de miséria, penúria e sofrimento com as torneiras secas e todo mês recebendo as enormes contas da Embasa. Algum empresário, principalmente do setor industrial, se habilita investir numa cidade sem água, sem contar a falta de um aeroporto e projetos de mobilidade urbana para destravar o trânsito?
Para começar, precisamos ter uma Câmara de Vereadores à altura do porte do município que nos últimos 15 anos foi um dos que mais se desenvolveu (educação, comércio e serviços) no Norte e Nordeste, mas que agora tem seu índice de desenvolvimento atravancado por falta de grandes projetos de infraestrutura. Além da barragem que não sai do papel, o novo aeroporto está virando pouso de urubu e pista de corrida dos “senhorzinhos”.
É uma vergonha o que está acontecendo com Conquista, mais parecendo uma cidade sem lideranças onde cada um só pensa em si e não coletivamente. Cadê a CDL, a Associação Comercial e Industrial, OAB, os políticos, os sindicatos, as universidades (sempre desligadas e ausentes da comunidade), as associações de bairros, os intelectuais, artistas e outros segmentos ditos representativos da sociedade?
Vejam o caso do Centro de Cultura Camilo de Jesus Lima que há três anos está fechado para fazer uma simples reforma! Enquanto as entidades falam baixinho, uma com medo de ofender os brios da outra, os artistas, estudantes e os intelectuaisjá deveriam ter ocupado aquela unidade para pressionar o Governo do Estado a concluir a obra. Cadê a politização e o alto nível cultural de Conquista de que tanto falam por aí?
No caso mais crítico da escassez de água por falta de uma barragem que atenda a demanda da população, a Embasa, empresa do Estado, aponta o dedo para os agricultores como bodes expiatórios quando, na verdade, a culpa maior é dos governantes e das representações políticas e sociais que não se mobilizam como deveriam e ficam o tempo todo dizendo amém para as promessas que nunca se concretizam.
Para os moradores, especialmente para os de menor poder aquisitivo, que necessitam da água, não interessa desculpas de que não apareceram interessados pelos contratos. Sobra burocracia e faltam, há anos, boa vontade e competência política para solucionar o problema.
As eleições estão batendo nas portas e logo todos vão aparecer por ai como pais da criança promovendo solenidades, reuniões, sessões e encontros cheios de papéis fajutos em alusão à barragem. Depois dos discursos e aplausos assinam os chamados termos de compromissos para construção da obra. O tempo passa e voltam a decretar outro racionamento mais severo.
A mídia regional também tem sua parcela de culpa porque não cobra com mais frequência e firmeza os projetos mais necessitados e urgentes para Vitória da Conquista. Não basta só fazer o factual e noticiar a tabela de racionamento de água, mas elaborar e divulgar matérias sérias e de conteúdo em defesa da população que há anos sofre com lata d´água na cabeça em procissão, esperando pelas chuvas de São Pedro.
Se houvesse justiça e cumprimento das leis neste país, a empresa estatal seria punida a reduzir pela metade o valor da conta de água de todos os moradores. Ninguém deveria ser obrigado a pagar por um produto que não recebe, mas aqui neste país, neste estado e neste município, é assim que funciona.
No nosso caso específico do racionamento de água, os mais pobres dos bairros distantes distantes são os mais prejudicados e castigados, e isto já vem ocorrendo há muito tempo. Os ricos investem em seus caros armazenamentos de milhares de litros de água. Esta promessa da Embasa de socorrer os locais mais críticos com carros-pipa não passa de mais uma fila de humilhação, como foi a vacina da gripe.
