10 de abr. de 2016

Vitórias e Conquistas
Nando da Costa Lima

Nando
Em 1970 nós estávamos comemorando a vitória do tricampeonato mundial de futebol, nessa época o futebol era usado para encobrir os desmandos da ditadura militar. Tanto era que nós passamos anos comemorando este título. As páginas de esporte dos jornais eram as únicas que não sofriam censura. A meninada jogava bola o dia todo, só paravam pra dormir e ir pra escola. Nessa época era Médici que comandava o país, talvez uma das fases mais duras da ditadura, um tempo em que ninguém podia ter ideias ou opiniões próprias, qualquer coisinha a mais falada o autor era taxado de subversivo, era uma merda. Tudo era sujeito à censura: teatro, cinema, literatura. Os nosso compositores tinham que fazer malabarismo pra se expressar, as letras das músicas pareciam códigos. Os intelectuais de plantão decifravam os versos, cada um à sua maneira, e transmitiram para os menos intelectualizados. Era engraçado, os versos davam mil voltas para chegar até a palavra mais censurada em qualquer ditadura: Liberdade.

Estamos atravessando um momento em que esta liberdade corre risco de ser podada. Não podemos esquecer que numa democracia o indivíduo tem liberdade pra se expressar da maneira que lhe convir. Até Chico Buarque em cima de um palanque com uma flor na mão fazendo discurso pra uma torcida organizada é admissível. Não há necessidade de confrontos corporais. O diálogo, a diplomacia, cansa bem menos e evita este clima de desordem que vem deixando um cheiro de intervenção militar no ar. Se é que já não dividiram o País em “nós” e “outros”, vamos nos manifestar sem violência. Lembrem-se que o papel das forças armadas é proteger nossas fronteiras e manter a ordem. Só que quando solicitadas pra pôr ordem na esculhambação dos nossos políticos elas acabam gostando e tomando as rédeas com apoio dos menos inflamados.

Aqui em Conquista, mesmo em plena ditadura militar nossos políticos sempre se respeitaram e apesar dos conquistenses sempre tenderem pra esquerda, nunca houve necessidade de interferências. Nós atravessamos a ditadura tendo como único representante das forças armadas um sargento do exército. Este até lembrava um personagem de Garcia Marques, nosso guardião da ditadura passava seu tempo prendendo bolas de sinuca nos botecos e colocando nossos reservistas (atiradores) pra capinar e consertar as cercas do seu sítio. Mas a população (sabiamente) deixava ele se sentir o máximo.
Por outro lado, tínhamos aqui grandes nomes, tendo como mentor o Prof.º Everardo Públio de Castro. Talvez tenha sido o responsável em tornar nossa terra uma das poucas cidades que conseguiram eleger um prefeito de esquerda no auge da ditadura militar. É claro que José Pedral teve grande participação nesse processo.
Hoje, estamos nessa situação que vem dividindo o País, na qual os confrontos politiqueiros vêm colocando em jogo nossa principal vitória das últimas décadas. A manutenção do Estado Democrático só depende de nós, por isso não podemos nos dividir embarcando na cegueira da maioria de nossos representantes políticos, cujo único objetivo é o poder. Se é que existe pecado, chamar esta palhaçada que está sendo exibida no Cine Brasília de POLÍTICA é um pecado imperdoável. Tomara que nossas disputas regionais não tentem alimentar as baixarias que vêm ocorrendo no 1º escalão, lá a coisa tá tão feia que se piorar mais um pouco Fernandinho Beira-mar pode ser considerado preso político.

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