Um causo de assombração
Nando da Costa Lima
Ademir Cordeiro da Silva nem costumava se lembrar dos sonhos… quando sonhava era uma mistura retada que ele nem conseguia relacionar. Mas de uma hora pra outra ele passou a ter aquele sonho que parecia um filme, não ficava uma semana sem sonhar com aquilo, era idêntico. A família e os amigos, todos já sabiam da história… Os mais céticos não levavam a sério, achavam que era invenção. Mas os mais espiritualizados até o aconselhavam a pesquisar sobre aquela história que tanto o perseguia. Não que fosse um pesadelo, era um sonho até agradável. Tudo se passava num casarão enorme, só na frente tinham doze janelas. Um típico casarão colonial que ele descrevia minuciosamente, os quartos, as salas, a cozinha e as pessoas que ali habitavam. Segundo ele chamava os donos de vô e vó e tinha mais de vinte tios. Só que nem o pai nem a mãe de Ademir tinham lembranças dos nomes por ele citados e muito menos de terras pertencentes à família. Eram ambos criados numa cidade grande e nem tinham parentes que possuíssem tal patrimônio, era uma gente simples. Aquele casarão do sonho do filho era coisa de grandes fazendeiros, nem passava pela cabeça deles alguém da família com condições de ter morado num paraíso descrito pelo filho. Ele tinha anotado os nomes de todos os moradores da terra, vaqueiros, tios, cozinheiros, e aquele sonho frequente já fazia parte da sua rotina. O cenário era sempre o mesmo, mudavam as histórias ocorridas, chegaram até a sugerir pra Ademir publicar um livro sobre suas aventuras quase mediúnicas. Alguns o aconselharam a pesquisar na Internet sobre casarões coloniais. E foi assim que ele achou uma fotografia de uma dessas fazendas do interior mineiro que era idêntica à dos seus sonhos… Aí ele encabulou mais ainda, na primeira oportunidade iria a Minas Gerais desvendar este mistério.
E quando chegaram as férias Ademir se picou pra terra do poeta Drummond. Conseguiu rapidamente um guia que se interessou pelo caso e se dispôs a acompanha-lo até o dito casarão dos seus sonhos. Ao chegarem lá Ademir redobrou sua certeza, o lugar era aquele. Só que por mais que perguntasse ou procurasse alguém relacionado ao casarão, não encontrou. Já estava pra desistir quando o guia teve a ideia de leva-lo ao cemitério da fazenda, onde provavelmente estariam repousando os donos que ali moraram. E foi lá que ele encontrou 23 sepulturas, era um cemitério bem antigo. Nas duas maiores estavam enterrados os velhos que no sonho eram seus avôs Idelfonso e Marculina, e em vinte estavam os tios, todas tinham o nome e as datas de nascimento e morte. Mas foi a última que deixou Ademir arrepiado: é que nesta estava uma sepultura pronta, nova, destoando das demais, porém vazia. Na cruz estava seu nome e a data de nascimento. O guia saiu correndo e Ademir logo que se recuperou do desmaio, enveredou nos caminhos da pinga… Toda vez que me vê me conta esta merda de história e pede segredo. Eu só tô contando pra ver se aquele sacana morre de raiva e para de encher meu saco, vai pra porra, aquele bebo boca de chuveiro me abraçando e contando a mesma coisa há dez anos. E esse sacana desse bebum chato parece um fantasmas, eu não posso sentar num buteco que ele aparece…
