14 de jul. de 2016

A volta dos que já foram sem uma candidata à 
Prefeitura de Vitória da Conquista
Jeremias Macário | Jornalista | macariojeremias@yahoo.com.br

Resultado de imagem para jeremias macárioNa terra de dona Laudicéia Gusmão, Henriqueta Prates, Joana Angélica Santos, Geny Fernandes de Oliveira Rosa, a Dona Zaza – primeira a assumir uma cadeira na Câmara Municipal (1937), Lycia Moura, Zilda Maria Moura Costa (Zyka), Olívia Flores, Dona Dalva Flores e tantas outras de destaque no cenário econômico, político e social, uma mulher ainda não assumiu o cargo de prefeita.
Nesses quase dois séculos de história desde Vila Imperial, em 1840, Vitória da Conquista se evoluiu na economia, na educação e na cultura com grandes nomes e feitos na literatura, na poesia e na música. Enfrentou a ditadura de 1964 com a cassação de um prefeito eleito pelo povo e hoje é a terceira maior cidade da Bahia, mas nunca teve uma candidata à prefeitura.
Na política estadual, Conquista sempre foi uma caixa de surpresas e mudanças ao apoiar e eleger candidatos com ideias e tendências progressistas, comprometidos com o setor social. Saiu de uma duradoura oligarquia coronelista para votar em pessoas com viés socialista de esquerda, como foi a eleição de Pedral Sampaio, em 1962.
Nas décadas de 70 e 80 rejeitou o autoritarismo carlista elegendo nomes da oposição (Raul Ferraz, Jadiel), culminando com a tomada do poder pelo PT com a escolha de Guilherme Menezes, em 1996/97. Mesmo assim, o município que mais cresceu nos últimos anos no Norte e Nordeste ainda mantém o ranço político conservador por nunca ter elegido uma mulher como prefeita, muito menos como candidata.
Pelo que se sabe, a única mulher que tentou e não conseguiu foi Margarida Oliveira, em 1992. Terminou sendo vice na chapa de Pedral Sampaio, mas não assumiu, preferindo continuar como deputada na Assembleia Legislativa.
Nesse sistema político vicioso, arcaico e perverso, nos anos eleitorais municipais na Bahia, no Nordeste e no Brasil em geral, como agora, está sempre na tela o chamado “clube do bolinha” com a volta dos mesmos candidatos que já foram prefeitos e vereadores, mais pela via assistencialista dos favores do que pela competência propriamente dita.

Vitória da Conquista não fica de fora desse esquema das mesmas caras, ainda mais por nunca ter tido uma candidata à prefeitura, o que vale dizer que jamais foi governada por uma mulher. Neste ano não é diferente entre os partidos que postulam o cargo, embora na história mais recente, como lá atrás, muitas mulheres continuem desempenhando funções de destaque na sociedade com seus exemplos de trabalho e dedicação.
A ausência política da mulher no comando do executivo municipal nas cidades interioranas mais populosas não se restringe somente a Conquista, mas também a outras do mesmo porte, com raras exceções. Falta de oportunidade partidária ou desinteresse em participar dessa política de imagem distorcida praticada pelos principais personagens, o certo é que existe uma lacuna da mulher na cabeça de chapa como postulante ao cargo de prefeita.
Será que a culpa toda está na própria formação cultural do país que desde os tempos coloniais de mentalidade machista relegou à mulher o papel secundário na sociedade, restrito aos afazeres da casa? Falta de mobilização da própria mulher em exigir seus direitos a partir da emancipação feminina? Ou na própria política que terminou caindo no descrédito depois de tantos desmandos e malfeitos?
Bem, são questões a serem avaliadas e analisadas por sociólogos, historiadores e cientistas políticos que se proponham a sair de seus escritórios de ar condicionado para averiguar os fatos “in loco”. O real é que permanece a mesmice de sempre, não faltando as brigas e palavrões durante o pleito entre candidatos e eleitores na disputa pelo seu quinhão.
Além dessa escassez de mulheres como candidatas às prefeituras, outro fenômeno que nos chama à atenção é o continuísmo dos mesmos nomes que já foram prefeitos de suas cidades por quatro, cinco e até seis vezes, casos de Ilhéus, Itabuna, Juazeiro, Feira de Santana e outras. É a volta dos que já foram sem dar a mínima para a renovação.
Esse quadro ainda é mais acentuado nas cidades de menor porte do tipo Anagé, Caraíbas, Belo Campo, Piripá e as demais que compõem os 417 municípios baianos. O rodízio político entre eles mesmos é perpetuado por anos e anos, sempre um passando o bastão para seu sucessor, e vice-versa.
Nesses grotões dos currais eleitorais, principalmente, na grande maioria o voto continua sendo de cabresto em pleno século XXI da evolução tecnológica da computação onde é trocado por telhas, alvenarias, caixões, dentaduras, simpatias, amizades e outras quinquilharias utilizadas por candidatos às prefeituras e às câmaras municipais de vereadores. Mudaram apenas os métodos coronelistas.
Em Salvador as táticas medievais usadas pela situação para atrair o eleitor continuam as mesmas dos tempos do avô ACM. A oposição da esquerda comandada pelo PT (hoje no Governo do Estado) está enfraquecida e dividida. Aqui em Conquista a situação rachou entre vários candidatos para depois se unir. Nas vésperas, o PSB sempre lança um postulante à prefeitura para depois coligar e arrancar uma vice. A oposição também tem vários pretendentes, de modo que tudo continua como Dantes na Casa de Abrantes.

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